Ao longo da história da humanidade, a lua cheia sempre esteve 
relacionada aos desequilíbrios emocionais, ao comportamento violento e à
 loucura.
 Não é a toa que a lua cheia é a lua dos amantes apaixonados, 
dos assassinos seriais, dos lobisomens e de diversas criaturas do 
folclore nacional. Acredita-se que, durante a lua cheia, aumentem o 
número de crimes violentos, de suicídios e das internações nos 
hospícios. A lua cheia também é relacionada à fertilidade e não é 
incomum que enfermeiras e médicos acreditem que mais mulheres dão à luz 
na lua cheia. No campo, muitos agricultores consultam a Lua antes de 
plantar ou podar, assim como nos salões de beleza muita gente faz o 
mesmo na hora de cortar o cabelo. Mas será que estes mitos lunares 
resistem aos dados da ciência?
Não é de hoje que cientistas buscam correlações entre a lua cheia e o 
comportamento humano. No que diz respeito aos nascimentos durante a lua 
cheia, o físico brasileiro Fernando Lang da Silveira foi um dos que 
colocou o mito à prova, em seu 
trabalho
 intitulado "Marés, Fases da Lua e Bebês" (a versão final do trabalho, 
publicada no Caderno Brasileiro de Ensino de Física, está 
aqui).
 Utilizando os dados de 93.000 estudantes cadastrados nos concursos da 
UFRGS e comparando-os com as tabelas lunares do Observatório Nacional, 
Fernando Lang, pôde constatar que não havia correlação entre o número de
 nascimentos e a fase da Lua. Na Espanha um estudo semelhante foi 
conduzido pelo Hospital de Cruces, na cidade de Barakald e tampouco foi 
detectado algum aumento no número de nascimentos durante a lua cheia. 
Mas o mais abrangente 
estudo
 sobre o assunto foi feito pelo astrônomo Daniel Caton, que em 2002 
analisou mais de 70 milhões de registros de nascimentos ao longo dos 
últimos 20 anos. Sua conclusão foi inequívoca: não há nenhuma relação 
entre a lua cheia e o número de partos.
Quanto aos suicídios, diversos estudos mostraram que eles não são mais comuns durante a lua cheia como se pensa (confira 
aqui e 
aqui); pelo contrário: um 
estudo
 realizado pelo Instituto de Saúde Pública da Finlândia divulgado em 
2000 mostrou que em 1.400 casos de suicídio ocorridos ao longo de um ano
 na Finlândia, uma quantidade significativamente maior ocorreu durante a
 lua nova, quando a luminosidade é menor.
Loucos não são chamados de lunáticos à toa. O mito de que a lua cheia 
provoca maior atividade nos hospícios é um dos mais populares entre os 
mitos lunares. Também é mais um a não encontrar apoio nos lúcidos dados 
estatísticos. O psicólogo canadense Ivan W. Kelly e seus colegas da 
Universidade de Saskatchewan investigaram em 1996 mais de 100 estudos 
relacionados ao efeito lunar e 
não encontraram
 nenhuma relação entre a lua cheia e algum comportamento que possa 
remotamente ser rotulado como lunático. Uma boa coleção destes estudos 
até a década de 80 pode ser encontrada no livro "
Astrology: True or False? - A Scientific Evaluation" de Roger Culver e Philip Lanna (o livro pode ser "folheado" 
aqui).
E quanto aos animais, geralmente mais irracionais que os homens? Será 
que pelo menos eles não ficam um tanto mais insanos na Lua cheia? Não 
segundo os pesquisadores Simon Chapman e Stephen Morrell da Universidade
 de Sidney. A pedido dos fazendeiros locais, que tinham como certo o 
fato de que os cães mordem mais pessoas na Lua cheia, os dois decidiram 
examinar o mito e produziram o 
estudo: "
Barking mad? Another lunatic hypothesis bites the dust".
 A conclusão é de que pelo menos os cães canadenses não mordem as 
pessoas mais frequentemente na Lua cheia do que em outra luas (pelo 
menos não o suficiente para levá-las ao hospital). Este estudo vai de 
encontro a 
outro que mostrou resultado oposto com cães ingleses, mas que foi 
criticado por não tratar separadamente os finais de semana e feriados, onde normalmente os atendimentos são maiores.
E já que estamos falando em hospitais, um outro 
estudo - "
Effect of lunar cycle on temporal variation in cardiopulmonary arrest in seven emergency departments during 11 years"
 -  publicado no European Journal of Emergency Medicine, desmonta o mito
 de que há mais atendimentos de emergência a pacientes cardíacos durante
 a lua cheia (embora tenha encontrado uma média de 6,5 % menos 
ressucitações na lua nova).
Outro mito popular é de que durante a lua cheia acontecem mais crimes, 
especialmente os violentos. Durante algum tempo, este mito gozou de 
alguma credibilidade científica, graças ao pesquisador Arnold L. Liber 
da Universidade de Miami. Liber investigou 14 anos de ocorrências 
policiais no estado da Flórida e disse ter encontrado maior atividade 
criminal durante a lua cheia. Este estudo até hoje é amplamente citado, 
especialmente pelos esotéricos, que vêem nele a prova de suas crenças, 
porém nenhum outro pesquisador 
conseguiu
 chegar aos mesmos resultados de Liber. O astrônomo George Abell da 
Universidade da Califórnia, por exemplo, ao analisar os mesmos dados, 
realmente constatou que o número de crimes aumenta nos períodos de maior
 calor e nos feriados, mas não encontrou nenhuma relação com a fase da 
lua. Já na Espanha o estudo "
Moon cycles and violent behaviours: myth or fact?" 
publicado
 no European Journal of Emergency Medicine analisou 1.100 casos de 
vítimas de agressão atendidos durante um ano no hospital universitário 
La Candelaria, em Tenerife, e não encontrou nenhuma relação entre os 
atendimentos e a fase da Lua. Nenhuma relação tampouco foi encontrada 
por Alex Pokorny e Joseph Jachimczyk, da Escola de Medicina Baylor de 
Houston, que nos anos 70 analisaram 2500 homicídios ocorridos no Texas, 
durante quatorze anos ("
Astrology: True or False? - A Scientific Evaluation" de Roger Culver e Philip Lanna).
Já no campo, muitos agricultores 
acreditam
 que as colheitas são mais abundantes se as sementes forem plantadas nas
 fases certas da Lua. Mas não é só isso: em muitas regiões os 
fazendeiros também consultam a Lua antes de podar plantas, colher maçãs,
 fertilizar o solo, cortar madeira, castrar animais, desmamar crianças, 
assar bolos e até mesmo lançar as fundações de uma construção. A crença 
nos efeitos da Lua vai além das meras tradições populares transmitidas 
de pai para filho; nos EUA, o "Almanaque do Fazendeiro" oficializa o 
mito e ensina, entre outras coisas, que o que o dia 21 de maio é 
perfeito para capinar o mato, já que a vegetação crescerá mais 
lentamente. O grupo 
Australian Skeptics
 é um dos poucos que colocou este mito à prova. Ao plantar sementes em 
luas "boas" e "ruins" os pesquisadores não encontraram nenhuma diferença
 significativa no tempo de germinação ou no peso dos vegetais colhidos.
Do crescimento da vegetação ao crescimento do cabelo basta um pulo para 
imaginação popular. Claro que você já ouviu falar que cortar o cabelo de
 acordo com a lua pode fazê-lo crescer mais rápido ou com mais volume. O
 site 
longhairlovers.com,
 por exemplo, ensina: "para o cabelo crescer com mais volume corte-o 
quando a lua estiver cheia na casa de Touro, Câncer ou Leão", e por aí 
vai. No Rio Grande do Sul a empresa 
Pilomax
 embalou a superstição em um produto comercial e vende desde 1968 o 
Calendário Lunar Pilomax, mais um revolucionário tratamento que promete 
resolver o problema da queda de cabelos (um cliente satisfeito do 
sistema diz que usa o produto há vários anos e que ele funciona sim: os 
pêlos das suas costas, nariz e ouvidos cresceram bastante desde que 
começou o tratamento, mas não tanto os da cabeça, que continua careca; 
certamente, pensa ele, porque não levou em conta seu ascendente). Nem 
todos os cabeleireiros se deixam levar por este mito; os profissionais 
mais sérios o colocam na mesma categoria de outras superstições 
populares conhecidas por "
hair-voodoo" (do tipo: "usar boné provoca queda de cabelo"; 
aqui e 
aqui
 há uma boa lista deles). O dermatologista Valcinir Bedin, presidente da
 Sociedade Brasileira para Estudos do Cabelo assegura que a Lua não 
influi na maneira e na velocidade com que o cabelo cresce e que 
independentemente da fase lunar, a média de crescimento mensal do cabelo
 é de 1 centímetro (Veja, 
edição 1638, 1/3/2000, p. 127).
De onde vêm os mitos lunares?
Praticamente todos os mitos relacionados à Lua vêm de uma 
falácia,
 ou seja, de uma associação lógica que parece verdadeira, mas não é. 
Todo mundo sabe que a Lua afeta as marés; ora, se nosso corpo é 
constituído em sua maior parte de água, ele não poderia também ser 
influenciado pela Lua, manifestando uma espécie de "maré corporal"? Esta
 idéia parece tão lógica que já rendeu um livro inteiro: "
How the Moon Affects You"
 de Arnold L. Lieber (responsável pelo estudo que citamos acima), 
publicado pela primeira vez em 1978 com o nome "The Lunar Effect". 
(Neste livro, entre outras coisas Liber previu um grande terremoto na 
Califórnia em 1982, provocado pelo alinhamento dos planetas que ocorreu 
naquele ano. O terremoto não aconteceu, mas como isso não é coisa que 
costuma desanimar os futurólogos, Liber renovou a previsão na nova 
edição de seu livro, desta vez sem marcar a data).
Parece lógico, mas não é. O problema é que a influência da Lua nas marés é 
gravitacional
 (e não magnética como espalham alguns sites esotéricos por aí) e a 
força gravitacional é uma força muito, muito pequena (é a mais fraca das
 forças físicas conhecidas). Sendo tão pequena, a força gravitacional só
 se torna perceptível quando estão envolvidas massas muito, muito 
grandes, como, por exemplo, as massas da Lua e dos oceanos da Terra 
(esclarecendo: ela é proporcional às massas dos corpos e inversamente 
proporcional ao quadrado da distância entre eles). É por isso que, assim
 como você será incapaz de perceber marés em um copo d'água, também o 
nosso corpo não sentirá qualquer influência perceptível da Lua. De fato,
 um mosquito pousado no seu cabelo 
exerce mais força sobre ele do que a distante Lua, independentemente da fase.
Eis um outro problema para a teoria das tais marés corporais: como a 
força gravitacional depende da distância e como a distância entre a Lua e
 a Terra praticamente não se altera (a órbita da Lua é bem pouco 
elíptica), 
as marés não são provocadas pela fase da Lua.
 Sim, as marés são mais fortes na lua cheia e na lua nova, mas somente 
porque nestes períodos a Lua e o Sol estão alinhados e a força 
gravitacional dos dois exercida sobre os oceanos se soma. Assim, se 
alguém aceitar a teoria das marés corporais terá que reeditar todos os 
mitos lunares e incluir a lua nova entre eles.
Finalmente, o mito de que os ciclos menstruais são regidos pelos ciclos 
lunares envolve um mero probleminha de aproximação. O ciclo menstrual 
médio é de 28 dias (e isso porque apenas 30% das mulheres têm períodos 
que diferem de menos de dois dias da média) enquanto o ciclo lunar é de 
imutáveis 29,53 dias. A diferença de 1 dia e meio não perturbou nossos 
ancestrais que inclusive colocaram na raiz da palavra 
menstruação, a palavra grega para Lua (
menus).
 Em todo o caso, aqueles que vêem algo de espetacular no fato de que, 
entre todos os mamíferos, apenas a mulher apresenta um ciclo de ovulação
 mais ou menos parecido com o lunar, está negligenciando a pequenina 
cuíca, um marsupial semelhante ao gambá, nativo das Américas. A cuíca (
opossum)
 também tem um ciclo de aproximadamente 28 dias. É de se imaginar o 
misterioso desígnio que reservaria unicamente às mulheres e cuícas um 
ciclo de ovulação quase igual ao lunar...
 
http://www.sitedecuriosidades.com/curiosidade/a-lua-cheia-influencia-nosso-comportamento-o-crescimento-dos-cabelos-etc.html