domingo, 19 de fevereiro de 2012

Difícil rotina dos estivadores que atuam no porto da Manaus Moderna

Eles carregam mercadorias acima do próprio peso e são confundidos com ladrões e ‘pés inchados’ 
 
Manaus - Eles acordam muito cedo, carregam bagagem e mercadorias acima de seu próprio peso e recebem muito pouco pelo trabalho pesado que realizam. Os estivadores e carregadores que atuam nos portos de Manaus fazem parte de uma categoria que é essencial para o transporte fluvial, mas, em geral, não são bem vistos pela população e passageiros nos portos de Manaus.
“Para mim, eles passam o dia bebendo e só trabalham para conseguir se alimentar e beber mais. Parece que não fazem outra coisa”, opinou a operadora de caixa Neide Vasconcelos Guimarães, 26, que na sexta-feira, 17, estava viajando para a cidade de Parintins. Ela foi abordada pela reportagem do DIÁRIO após negar o serviço de um carregador e descer uma das rampas da Porto da Manaus Moderna carregando três malas de forma improvisada.
Do outro lado  da visão negativa que os carregadores possuem, temos a do carregador, Edvaldo Soares, 46. Todo dia, ele chega no local de trabalho às 4h, e carrega, em média, mais de 80 quilos em cada viagem que faz desde a calçada da Rua Lourenço Braga, nas proximidades da feira da Manaus Moderna, até os barcos atracados nas balsas da área portuária.
“Tem dias que dá um dor na costa e nas pernas, mas não é nada demais. No outro dia já passa e estou de pé de novo sem problema”, contou. Questionado se sente medo de ter uma doença mais séria por causa do peso que carrega, Soares desconversa: “todo dia eu levo dinheiro para a minha família e tenho muita saúde para trabalhar. Isso que importa”.
Na Manaus Moderna atuam cerca de 128 estivadores e outros 70 na Feira da Panair, no bairro Educandos, zona sul. Em média, eles faturam R$ 50 por dia, ressaltou o presidente da Associação dos Carregadores do Porto da Panair, Júlio Araujo Lima.
Segundo ele, é recomendado aos carregadores que evitem competição entre eles para ver quem leva mais peso. “Há casos em que um quer mostrar que pode carregar mais peso que os demais que isto é prejudicial. Tentamos conscientizá-los a carregar apenas o limite de cada um”, reiterou Lima.
Sem opção
Nem todos que atuam como carregador no porto da Manaus Moderna sempre tiveram esta opção de trabalho. O carregador Elias Santos de Souza, 49, chegou há 35 anos em Manaus vinda de Serrinha (BA)  para trabalhar como pintor de letreiros. “Fiquei sem opção de emprego e resolvi vim trabalhar no porto”, contou.
Elias disse que atuou em prédios públicos como o fórum Ministro Henoch Reis, na zona centro-sul, e na sede do Ministério Público do Amazonas, na zona oeste. “Sabe aqueles letreiros?! Eu e meu irmão fizemos junto com outros trabalhadores. Ele (o irmão de Elias) continua trabalhando neste ramo, mas eu prefiro ficar aqui mesmo”, completou.
No porto da Manaus Moderna, atuam carregadores organizados por meio de Sindicato dos Trabalhadores do Porto de Manaus, mas os avulsos são a maioria. “Todos os sindicalizados possuam uma credencial de identificação, além de estarem uniformizados com uma camisa azul”, explicou o carregador sindicalizado, Adelson Caetano de Oliveira, 47, que trabalha há 22 como na Manaus Moderna.
Para a estudante Lígia Mônica Oliveira de Oliveira, 22, há carregadores que passam do limite para conseguir um serviço, mesmo assim ela sente “pena”. “Eles levam muito peso e acredito que, com o tempo, este esforço pode afetar a saúde deles”, completou.
A preocupação da estudante é compartilhada pela médica do trabalho Eduarda Helena da Cruz. “Eles carregam uma quantidade de peso acima do recomendado. Com o tempo, este esforço irá gerar doenças como hérnia de disco, na coluna vertebral, além de afetar tecidos moles como tendões e ligamentos, graças ao excesso de peso que recai sobre o joelho”, informou.

 http://www.d24am.com/amazonia/historia/dificil-rotina-dos-estivadores-que-atuam-no-porto-da-manaus-moderna/50745

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