Seattle - Em fevereiro, na ala cirúrgica do Centro de Odontopediatria
do Hospital Infantil de Seattle, Devon Koester, de dois anos e meio,
estava deitado no colo de sua mãe enquanto um anestesista segurava uma
máscara com cheiro de chiclete sobre seu rosto, para colocá-lo para
dormir.
Os profissionais em seguida tiraram um raio X que mostrava que
11 de seus 20 dentes de leite tinham cáries. Em seguida, seu
odontopediatra extraiu dois dentes incisivos, realizou um tratamento de
canal em um molar e fez obturações e coroas nos demais.
A mãe de
Devon, Melody Koester, uma dona de casa de Stanwood, Washington, e seu
marido Matthew, gerente de tecnologia da informação, disseram que só
começaram a se preocupar com a escovação dos dentes de Devon depois que a
mãe notou que eles estavam descoloridos, quando ele tinha 18 meses de
idade.
"Eu tinha muitas coisas na cabeça, e escovar os dentes dele
era uma coisa em que eu não pensava à noite", afirmou.
O número de crianças em idade pré-escolar que precisam de extenso
trabalho odontológico sugere que muitos outros pais cometem o mesmo
erro. Em um estudo realizado há cinco anos, os Centros de Controle e
Prevenção de Doenças dos Estados Unidos observaram um aumento, o
primeiro em 40 anos, no número de crianças em idade pré-escolar com
cáries. Mas dentistas de todo o país dizem que estão vendo mais crianças
de todos os níveis sociais com seis a dez cáries, ou mais. Eles
acrescentam que o nível de deterioração é tão grave que muitas vezes
recomendam o uso de anestesia geral, porque as crianças provavelmente
não suportariam procedimentos tão longos se estivessem acordadas.
Não
há nenhuma base de dados central sobre o número de crianças submetidas a
anestesia geral para tratar cáries múltiplas, mas entrevistas com 20
dentistas e outros profissionais da área de cirurgia odontológica
sugerem que o problema é generalizado.
"Tivemos um aumento enorme
no número de crianças que vão para a sala de cirurgia", afirmou o Dr.
Jonathan Shenkin, odontopediatra em Augusta, Maine, e porta-voz da
Associação Americana de Odontologia. "Nós estamos tratando as crianças
mais cedo e de forma mais agressiva."
Mas essas operações são
evitáveis, afirmou. "Os pais me dizem o tempo todo: 'Ninguém nos disse
quando devíamos ir ao dentista, quando devíamos começar a usar creme
dental com flúor - todas essas informações básicas para combater a
principal doença crônica entre as crianças".
Os dentistas oferecem uma série de razões que explicam porque tantas
crianças em idade pré-escolar apresentam tantas cáries. Embora essas
razões não sejam necessariamente novas, elas se combinaram para criar um
problema cada vez maior: lanches intermináveis e suco ou outras bebidas
doces na hora de dormir, pais que escolhem água engarrafada ao invés da
água fluorada da torneira para seus filhos e a falta de conhecimento de
que as crianças devem, de acordo com especialistas pediátricos, visitar
o dentista a partir do primeiro ano de idade, para que se avalie o
risco de cáries no futuro, mesmo que elas tenham apenas alguns dentes.
E,
como algumas crianças não gostam de escovar os dentes, alguns pais não
as obrigam a fazê-lo.
"Digamos que uma criança tenha um ano e meio
de idade e grite quando começam a limpar os seus dentes", disse Jed
Best, um odontopediatra de Nova York. "Alguns pais dizem, 'Eu não quero
que minha queridinha fique traumatizada'. A metáfora que lhes dou é: 'É
muito melhor um choro de manha com uma escova macia do que o choro de
quando eu tiver que usar a broca numa cárie'."
As cáries muitas vezes começam com uma dor incômoda que as crianças
não conseguem distinguir do nascimento dos dentes. É por isso que os
pais não percebem que os dentes dos filhos estão infectados até que eles
se quebrem, ou que a dor se torne tão aguda que a criança não consiga
dormir, afirmou o Dr. Joel Berg, diretor do Centro de Odontopediatria,
uma parceria que existe desde 2010 entre a Universidade de Washington e o
Hospital Infantil de Seattle e que construiu uma ala cirúrgica em
resposta à demanda por cirurgias bucais para crianças em idade
pré-escolar.
Com uma criança que coopere, uma cárie - ou mesmo
muitas - pode ser tratada no consultório do dentista com uma injeção de
anestesia local e um pouco de televisão para distrair o paciente.
Mas,
com frequência, os dentistas recomendam a anestesia geral para crianças
em idade pré-escolar com problemas graves, em particular se elas não
permitem nem a realização de um exame de raio-X. Os pais pagam entre
2.000 e 5.000 dólares ou mais por um tratamento odontológico com
anestesia geral para uma criança, dependendo da cobertura do seguro e da
quantidade de trabalho necessário, afirmam diversos dentistas.
A Dra. Megann Smiley, dentista-anestesista do Hospital Infantil
Nationwide, em Columbus, Ohio, está acostumada a ouvir os pais
questionarem a necessidade de anestesia geral para restaurar os dentes
infectados de seus filhos. "É como apagar um fósforo com um hidrante",
afirmou Smiley. "Mas se qualquer um de nós tentasse tratar 12 dentes de
uma vez, nós não iríamos achar que isso é pouca coisa."
O centro
cirúrgico odontológico do Nationwide tem três salas de cirurgia que
foram utilizadas por funcionários e dentistas do hospital para tratar
aproximadamente 2.525 crianças em 2011, 6 por cento mais que em 2010. A
idade média dos pacientes é de quatro anos e a maior parte tem de seis a
oito cáries, afirmou.
"Os casos mais graves têm 12 ou 16 e vemos
isso várias vezes por semana", completou Smiley.
http://nytsyn.br.msn.com/estilodevida/crian%C3%A7as-na-mesa-de-opera%C3%A7%C3%A3o-com-a-boca-cheia-de-c%C3%A1ries-1
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