Rica em gorduras do bem, ela combate a obesidade, dá um chega pra lá no diabete e ainda livra o coração de entraves
No universo da nutrição, algumas
parcerias são conhecidas por sua sinergia. É o caso do azeite de oliva e
do óleo de linhaça, como comprova um novo estudo do Laboratório de
Sinalização Celular da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade
Estadual de Campinas, a Unicamp, no interior paulista. Segundo o
trabalho, pequenas doses desses alimentos combinados reduzem o risco de
obesidade e afastam o diabete do tipo 2.
Para comprovar a
façanha, os pesquisadores, primeiro, ofereceram durante dois meses uma
alimentação rica em gordura saturada — aquela encontrada em carnes
gordas, sorvete, manteiga e em muitos outros produtos industrializados —
a ratos e camundongos. "Esse modelo de dieta gerou uma inflamação no
hipotálamo, região do cérebro que é responsável por controlar a
necessidade de comer", conta Juliana Moraes, bióloga e autora do estudo.
E o resultado de uma pane dessas é desastroso. Afinal, depois de uma
bela pratada, o sinal de saciedade não é percebido e, assim, a comilança
segue desenfreada. Nas cobaias, além de catapultar a obesidade, a
situação abriu caminho para que o diabete se instalasse.
Diante
disso, os cientistas se perguntaram: será que as gorduras insaturadas,
como o ômega-3 do óleo de linhaça e o ômega-9 do azeite de oliva, seriam
capazes de combater a famigerada inflamação e reverter o caos? Para
chegar à resposta, Juliana e o nutricionista Dennys Cintra, seu parceiro
no trabalho, estimularam os animais a consumir diferentes porções de
ambos os óleos por outros dois meses.
Para preservar as gorduras boas do duo oleoso, evite usá-lo em frituras
"Estipulamos
que 35% da alimentação total seria formada por gorduras. Então,
dividimos os animais em três grupos e demos a cada um diferentes doses
dos ômegas", descreve Juliana. No final, notou-se uma melhora no estado
inflamatório do hipotálamo, permitindo que os roedores percebessem a
sensação de barriga cheia. Como consequência, eles passaram a comer
menos e, viva!, não acumularam quilos extras. Para a história ficar
ainda mais apetitosa, houve diminuição nas taxas de açúcar correndo pelo
sangue, provavelmente por um aumento da sensibilidade à insulina, o que
favoreceu o controle do diabete.
E, para quem acha que é preciso
se empanturrar de azeite e óleo de linhaça para obter os benefícios, um
aviso: os melhores efeitos foram registrados na turma que ganhou
pequenas porções, facilmente conquistadas no prato — uma única colher de
sopa de cada óleo estaria de bom tamanho. A colherada, no entanto,
escoou pela culatra no grupo que recebeu uma suplementação bem mais do
que caprichada. "Apesar de benéficas, essas gorduras são bastante
calóricas. Portanto, devem ser consumidas com moderação", informa Louise
Saliba, professora de nutrição da Pontifícia Universidade Católica do
Paraná (PUC-PR).
Ainda cabe ressaltar que a farinha da linhaça
disponibiliza teores generosos de ômega-3 e, por isso, pode ser uma
opção ao óleo da semente. "O correto é comprar os grãos e triturá-los em
casa para garantir o total aproveitamento das gorduras do bem, que
podem se perder durante o processo de industrialização do farelo",
informa a nutricionista Camila Janielle, do Hotel-Escola
Senac, em
Campos do Jordão, no interior de São Paulo. Se não conseguir consumir
todo o conteúdo de uma só vez, outro macete para preservar suas
propriedades: "Armazene-o em um recipiente fechado dentro da geladeira",
ensina Roberta Thys, professora da Faculdade de Engenharia de Alimentos
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Coração blindado
Ninguém
precisa esquentar a cabeça caso não seja possível usar os dois óleos
juntinhos, no mesmo dia — o que até seria o ideal, mas...
Individualmente, o duo também bate um bolão. Segundo um estudo recente
do grupo EurOlive, formado por instituições de cinco países europeus, os
polifenois do azeite de oliva ajudam a frear a oxidação do colesterol
LDL, considerado perigoso. Quando isso ocorre, reduz-se o risco de
placas de gordura na parede dos vasos, a temida aterosclerose — doença
por trás de encrencas como o infarto. A conclusão veio à tona depois de
os cientistas estimularem 200 homens a consumir o óleo dourado com
diferentes concentrações de polifenois ao longo de três semanas.
É
verdade que a dieta mediterrânea, da qual o azeite é um dos principais
componentes, há tempos é reconhecida por sua incrível capacidade de
proteger o coração. Só que o seu papel específico nessa empreitada não
era consenso até agora. "Daí a importância dessa pesquisa. Trata-se de
um bom pontapé inicial para esclarecer, de vez, as vantagens de incluir o
azeite na dieta", avalia Heno Lopes, cardiologista do Instituto do
Coração de São Paulo, o Incor.
Segundo Louise Saliba, o óleo da
azeitona ainda guarda outros trunfos. "Ele estimula a dilatação dos
vasos sanguíneos e, assim, reduz a pressão arterial. Também resguarda o
DNA contra danos oxidativos, evitando tumores", conta. A dica para
usufruir de tanta benesse é regar saladas, arroz, vegetais cozidos, pães
e torradas com 2 a 4 colheres de sopa do alimento por dia. "O ideal é
usá-lo frio, já que o calor degrada, parcial ou totalmente, os compostos
antioxidantes", avisa a nutricionista da PUC do Paraná.
O
médico nutrólogo e presidente da Associação Brasileira de Nutrologia,
Durval Ribas Filho, endossa a utilização do azeite para banhar o
organismo de saúde, mas alerta: "Estamos ingerindo mais ômega-6 e
ômega-9 e pouco ômega-3. E a desproporção pode trazer prejuízos". Ele
lembra que uma investigação japonesa já mostrou um aumento no risco de
câncer gástrico por causa do desequilíbrio. Para não cair na cilada, é
só investir vez ou outra em peixes de água fria, como salmão e atum, e, é
claro, na linhaça.
http://saude.abril.com.br/edicoes/0347/nutricao/azeite-oleo-linhaca-dupla-imbativel-quesito-saude-677536.shtml?pag=1
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