Detectar desconfortos emocionais nos pequenos não é tão simples quanto
perceber os de ordem física.
Saiba reconhecer indícios como
agressividade, recusa a se alimentar, problemas de sono, entre outros, e
indentificar suas causas
Desejar que um filho cresça saudável, feliz e que nada de mal aconteça a
ele é natural e faz parte de cada dia da vida de pais e mães. A
pergunta “será que está tudo bem o meu filho?” ecoa como um mantra na
cabeça dos adultos. Afinal, quais são os sinais que revelam que algo
está fora dos padrões?
Para a psicanalista e professora Isabel Kahn Marin, da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o principal critério é
observar se a criança, frente ao novo, busca coragem para ir adiante.
“Estranhar as novidades é comum. O que não pode acontecer é a
paralização diante de um desafio”, explica. “Não conseguir dormir, ter
medo de tudo, ficar calado demais e ter atitudes de recusa o tempo todo
são indícios de que algo não vai bem.” Cuidado apenas com os
diagnósticos antecipados. O pequeno pode até não querer comer, mas, se
no fim das contas se alimenta, tudo corre dentro da normalidade.
Em um primeiro momento, as referências familiares são fundamentais para
detectar qualquer dificuldade. Pais, mães, avôs, avós e babás devem se
organizar para ajudar o pequeno. “Se ele quer o brinquedo de outro
garoto e, por isso, joga a areia do parque nele, cabe aos responsáveis
orientá-lo, alertando que essa atitude não é adequada”, ensina a
professora. “É fundamental a mediação de um adulto para que ele se
adapte às exigências do mundo.”
Quando uma dificuldade não é resolvida em casa, vale conversar com os
profissionais que atendem a criança – professor e pediatra. Caso não se
observe mudanças importantes nas manifestações de desconforto, o caminho
é buscar orientações com profissionais ligados ao desenvolvimento
infantil, como os psicólogos.
Cabe ressaltar que muitos problemas apresentados sofrem influência
paterna ou materna. Agressividade pode indicar pais permissivos ou
abusadores e ansiedade tem a ver com pais autoritários ou também
ansiosos. “Muitas vezes, na psicoterapia infantil, um treinamento
parental é o suficiente para reduzir a frequência do comportamento
problemático”, afirma a psicóloga Juliana de Brito Lima, de Teresina
(PI), e também colunista do blog do Instituto de Psicologia Aplicada
(InPA), de Brasília (DF).
Segundo a psicóloga não é raro encontrar crianças com problemas de
comportamento que são reflexo de desajustes conjugais ou mesmo
emocionais de seus progenitores, uma vez que elas estão sensíveis ao
ambiente que as cerca. “Daí a importância da avaliação comportamental do
pequeno e encaminhamentos dos responsáveis para outros tratamentos,
como terapia de casal ou individual.”
Comecinho de vida
Os bebês, desde cedo, apresentam sua personalidade, mesmo que ainda em
formação. “Com o tempo, identificamos suas preferências e aprendemos a
vê-lo como um indivíduo, trazendo em si aquilo que diferencia um ser
humano de outro – sua subjetividade”, explica a equipe do Entre Laços –
núcleo de atenção à primeira infância. “Quanto mais nos abrimos para ler
o bebê, mais aprendemos sobre ele!” Para que sua mensagem seja
interpretada pelo adulto que o cuida, é fundamental estar aberto para
aprender e ensinar como a relação entre eles vai se desenvolver.
No início da vida, a criança traduz, por meio do corpo, suas
experiências psíquicas. Ela pode expressar bem-estar quando o
desenvolvimento se dá de maneira harmoniosa ou algum sofrimento psíquico
quando algo não vai bem. “Ao observarmos como acontece a alimentação, o
sono, a vocalização, o olhar, o brincar e a postura desse bebê, podemos
traçar um panorama de como ele está se desenvolvendo do ponto de vista
cognitivo, social e emocional”, afirmam os profissionais do Entre Laços.
Bebês que comem demais ou rejeitam com frequência diversos alimentos,
que dormem muito ou mantém um sono curto por longo período, que não se
comunicam com o olhar ou emitem gritos inarticulados ou mudismo
excessivo, que não interagem ao brincar com o próprio corpo ou na
exploração de objetos, que apresentam o corpo relaxado ou tensionado
demais podem estar sinalizando que algo não vai bem do ponto de vista
emocional.
Vale destacar que o estranhamento a cada fase nova de seu
desenvolvimento é esperado, como apresentar dificuldade de sono por
mudar do berço para a cama ou recusar a se alimentar na passagem da
dieta pastosa para a sólida. Os adultos serão os condutores dessas
mudanças. Se elas forem feitas respeitando o ritmo individual, as fases
de estranhamento não devem permanecer por muito tempo.
Pouco depois
Mesmo quando o quando o bebê cresce e já faz uso da fala para expressar
seus desejos e protestos, os adultos que o rodeiam devem se atentar. O
fato de começar a dominar o discurso não quer dizer que ele já domina as
causas de seu desconforto, principalmente se for emocional. “O que dá
pistas de que algo não vai bem é, de novo, o seu comportamento”, explica
o pessoal do Entre Laços. “Além de todos os sintomas já citados como
preocupantes para os bebês, roer unha, diminuição do apetite, reagir à
entrada na escola e pesadelos também são indícios.” Vale destacar que
essas manifestações podem ser ocasionais, frente à introdução de
novidades, afinal, qualquer um apresenta alguma mudança de comportamento
diante do novo.
Juliana enfatiza outros fatores de observação, considerando a
necessidade de auxílio profissional: apatia, tristeza, irritabilidade,
olhar vago ou perdido, esquiva de contato visual, atrasos na aquisição e
desenvolvimento da linguagem e psicomotricidade, dificuldade na
compreensão e aprendizagem, déficit no seguimento de regras impostas
pelos cuidadores, agressividade, agitação psicomotora e perturbação do
sono.
Os cuidadores, ao observarem mudanças de comportamento nos pequenos,
podem traduzir o que imaginam estar acontecendo, independentemente de
sua idade: “Você pode estar estranhando essa nova comida, mas já tem
dentinhos fortes e condições de mastigar”, “Sua cama está diferente, mas
o papai e a mamãe vão continuar contando historinhas antes de você
dormir”. Com palavras tranquilizadoras e apostando na condição da
criança de superar as dificuldades iniciais, o comportamento não tende a
persistir.
Bem maiorzinho
Quando ingressa na escola, a criança exercita aspectos cognitivos
(pela aprendizagem de conteúdos escolares) e sociais. É nessa fase que
se desenvolve a socialização, pois já é possível interagir, brincar em
grupos e assimilar regras, valores, habilidades (como civilidade,
expressão emocional, empatia, fazer amizades e resolver problemas
interpessoais).
Os pais devem observar, sobretudo, dois sinais: se há problemas
acadêmicos (baixo desempenho escolar, alguma dificuldade de
aprendizagem, baixas concentração e atenção, agitação ou retardo
neuropsicomotor, recusa de ir à escola, ansiedade diante de atividades
escolares) e prejuízos sociais (se exclui ou é excluído dos grupos de
amigos, se é isolado, se é bem quisto pelos colegas, se é agressivo ou
retraído diante dos amiguinhos etc.). Como a criança chega da escola
também merece de atenção. Perceba como ela relata as atividades
acadêmicas de que participa (se com entusiasmo ou apatia, por exemplo),
se chega com dúvidas que poderia ter sanado com os professores e como
interage socialmente.
Recomenda-se que os pais observem um pouco a criança antes do início
das aulas ou na saída da escola. “Muitas vezes, as questões escolares
são fontes de ansiedade quando um fracasso ou um erro vem acompanhado de
uma punição. É o caso das provas, que podem desencadear ansiedade
significativa quando a família é exigente quanto às notas”, explica
Juliana.
É importante avaliar cada comportamento em seu contexto, buscando
variáveis que o influenciam e o mantêm. O contato frequente com os
professores e com os demais pais nas reuniões escolares e a conversa
diária com os filhos, verificando como foi o dia, o que aprendeu, quem
são os amigos, de quem gosta mais, o que faz diante de alguém que não
gosta muito, também constituem fatores que ajudam na detecção precoce de
problemas infantis, favorecendo um melhor prognóstico.
http://bebe.abril.com.br/materia/sinais-de-que-ha-algo-errado-com-o-comportamento-da-crianca
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