Honda VT 750 Shadow x Kawasaki Vulcan 900 Custom
As motos se encaram na disputa pelo coração dos amantes das pedaleiras avançadas
As motos custom são as mais vistas nas ruas e estradas. Depois, é claro,
das pequenas utilitárias entre 125 e 300 cc. A Honda Shadow 750 já foi
líder desse segmento, mas o título agora pertence à Harley-Davidson. A
Shadow foi a sétima mais vendida entre as custom de grande cilindrada em
janeiro passado, atrás de quarto Harley, da Yamaha Midnight Star 950
(em um valente segundo posto nas vendas) e da Suzuki Boulevard M800.
A
Kawasaki - no Brasil, a mais recém-chegada entre as japonesas - apenas
começa a arranhar o segment custom com as três versões de sua Vulcan
900: Classic, Classic LT e Custom (a que participa deste teste). A Honda
poderia fazer o mesmo, pois dispõe nos Estados Unidos de quatro versões
de sua Shadow 750: Spirit (aqui avaliada), Aero (a Shadow do modelo
anterior, lembra, de roda pequena na frente?), RS (quase uma naked
street) e Phantom (toda preta). Mas a marca líder prefere simplificar a
oferta e trabalhar com uma só versão custom.
Sejamos francos,
cilindrada conta em qualquer segmento e, em especial, neste aqui. No
comparativo entre uma 900 e uma 750, a cilindrada fez diferença, mas não
no desempenho na pista. A Kawasaki tem seu V2 de 903 cc com 50 cv a 5
700 rpm, contra o V2 (ambos têm refrigeração líquida) de 745 cc e 45,5
cv a 5 500 rpm da Honda. Parte disso se explica pela potência específica
dos motores, bem maior no da Honda. A Shadow tem 61,07 cv por litro,
contra 55,37 cv por litro da Vulcan.
A vantagem da Vulcan parece
ser ainda mais larga no torque: 8 "quilos", contra 6,5 da Shadow. Parece
que a 900 é muito mais forte, não é? Mas não é assim: o peso entra na
conta, o diâmetro dos pneus, o arrasto, a relação de transmissão... No
balanço, o desempenho das duas é muito parelho. Compare: ambas aceleram
até os 100 km/h em 8 segundos (8,1 na 750) e retomam de 100 a 130 km/h
em 7,6 segundos (outra vez, vantagem de 0,1 segundo para a Shadow,
irrisória diante da proposta das motos). Até em consume médio elas se
equivalem: ambas percorrem alguma coisa ao redor de 19,5 km com 1 litro
de gasolina.
As vantagens da Vulcan, bem mais encorpada, começam
na autonomia: com 20 litros no tanque, contra 14,6 da Shadow, ela é
capaz de percorrer, teoricamente, 390 km sem reabastecimento, enquanto a
rival deve abastecer após 282 km rodados.
A Vulcan tem mais
corpo, mais porte e muito mais conforto. Não só o banco e a posição de
guiar são melhores, mas também as suspensões são inteiramente voltadas
para a maciez, parecem um colchão de molas. Quem quer estabilidade para
fazer curvas raspando o joelho vai comprar uma custom? Jamais. E o motor
V-twin da Kawasaki é um primor no bom combate às vibrações.
Simplesmente é o V2 menos áspero que tenho visto em muitos anos.
Mesmo
assim, o tal colchão de molas tem mais curso (15 cm no garfo dianteiro,
contra 11,7 cm da Shadow, e 10 cm atrás, contra 9) e projeto de
engenharia mais moderno que a concorrente. A Vulcan tem suspensão
traseira monochoque com transferência de movimento ao conjunto
amortecedor/ mola através de articulações com bieletas, os famosos
links, que desmultiplicam o movimento e a força dos impactos. Nem se
compara ao sistema bichoque velhinho da Shadow.
A Honda dá o
troco na transmissão final por cardã, anos-luz à frente da correia da
Kawasaki (embora a correia dentada seja mais leve e de fácil manutenção)
em durabilidade, confiabilidade e frequência de cuidados.
A
Shadow volta a falar grosso quando se trata de segurança, em tese uma
preocupação que todo motociclista deveria priorizar, especialmente os
mais maduros, a cara do público das motos custom. Apesar de ambas terem
excelentes freios, de concepção muito semelhante (e também de
funcionamento), o sistema de apoio eletrônico ABS eleva a nota da Shadow
bem acima da Vulcan. O tal do freio combinado, vamos combinar, é só
para quem não sabe frear nem um pouquinho. Mas o antiblocante ABS faz
toda a diferença, pois as reações de um piloto em pânico independem da
sua habilidade. E essa história de frear só com o traseiro e o pedal
também acionar hidraulicamente (não há nada de eletrônico nisso) um
pistãozinho secundário, entre os dois principais, na pinça dianteira é
para motociclistas muito, muito neófitos... É um diferencialzinho de
marketing, mais que de funcionalidade e segurança. E, bom, é exclusivo
Honda.
Embora tenham recebido notas diferentes quesito a quesito,
ambas obtiveram notas finais idênticas. No mundo das constelações, a
Shadow ganha com 24 estrelas, contra 20 da Vulcan.
PRETO E BRANCO
No
estilo, as duas são bem diferentes. A Vulcan, na versão Custom, segue a
linha da "customização oficial", adotando equipamentos e pintura - tudo
em preto fosco e brilhante, sem nenhum cromado - que parecem
artesanais, feitos à mão. Não que o acabamento não seja bom: é
primoroso, como todos os produtos da marca de Akashi.
O design da
Vulcan é mais moderno e agressivo que o estilo saudosista da Shadow,
todo puxado para os cromados, com muito brilho. A pintura do tanque
dessa Honda é retrô, e o acabamento também é impecável. É difícil dar
pitaco nessa decisão: cada um gosta de uma coisa, e as motos são muito
diferentes visualmente. Mesmo na redação, as opiniões se dividiram. Eu,
particularmente, prefiro a Vulcan.
Na cidade, a dirigibilidade da
Honda é melhor. Mais baixa, mais maneável, mais leve, mais na mão -
embora longa para serpentear no tráfego denso. Na estrada, a coisa vira e
a Vulcan é mais confortável, mais pesada, com banco melhor e suspensões
mais eficientes. Em ambas dá para levar garupa até em pequenas viagens,
mas aí a bagagem vai ter que ir nas costas. Dela...
No fim, a
maior cilindrada da Kawasaki fala mais alto. Mas exclusivamente no
aspecto emocional da decisão, já que no desempenho em pista elas se
equivalem. Além disso, a Honda Shadow, apesar de ter mudado no fim de
2010 e de ser um conjunto redondinho e fácil de revender, não tem mais o
apelo de novidade que ainda bafeja a Vulcan, ainda mais nessa versão
Custom.
Em segurança, os freios ABS da Honda são um importante
diferencial e contam pontos. Sem eles, a Shadow custa 3 000 reais a
menos, ou cerca de 29 000, aumentando a diferença de preço entre elas.
Mas também perde o disco traseiro, ficando com um tamborzinho mixuruca
no eixo de trás.
São boas motos custom, de estilos radicalmente
diferentes, ambas com aros de 21 polegadas na dianteira e bancos bem
baixos. Disputam o mesmo comprador, oferecendo apelos diferentes. Não
foi fácil chegar a uma decisão. Noves fora a confiabilidade da marca, a
vastidão da rede de revendas, a eventual maior facilidade de negociá-la
depois, os freios ABS e o eixo cardã decidem a parada a favor da Honda
Shadow. Está vendo como tamanho não é documento...
http://quatrorodas.abril.com.br/moto/testes/honda-vt-750-shadow-x-kawasaki-vulcan-900-custom-682440.shtml
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